Oi, Salomão,
Chegou hoje à tarde seu Vagem de Vidro. É uma obra densa, complexa, de estrutura singular. Um livro de poesia de fato diferente. Vc realiza uma colagem de textos e imagens numa velocidade vertiginosa, explorando inúmeros efeitos surrealistas, a começar pelo título; a quebra ou mesmo eliminação da pontuação formal acarreta por vezes a sensação de estarmos diante de um hipertexto – por sinal, a influência da Internet no seu fazer literário se evidencia em vários momentos. Alguns poemas marcaram-me mais, como o que fala em Ulisses. Destaco também “E se todos nós decidíssemos pela ausência?” - Esse poema, aliás, caracteriza uma das tendências que percebi em seu estilo: a criação de uma espécie de universo à parte, totalmente feito de palavras (signos), em que tudo é possível. Algum dos seus apreciadores notou, com propriedade, a presença de um tom um tanto solene, grandioso, em seu discurso; por exemplo, no poema que começa por “A palavra definitiva”, há algo de bíblico no discurso; e aquela história de “corpo que repartes” evoca a passagem bíblica mais conhecida do antigo Salomão – só que, no seu poema, quem entra em cena é Prometeu; a parte do corpo a sacrificar não é o filho, mas o heroico fígado. Enfim, é uma poesia personalíssima, muito instigante. Difícil pretender esgotar a riqueza de seus significados e possibilidades com um único e breve comentário. Porém, fica aqui o registro, não apenas do recebimento do livro, mas também do prazer que essa primeira leitura me proporcionou. Parabéns.
Um grande abc,
Ricardo Alfaya
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