Foi uma enorme sorte
meu Padrinho ter aceito o pedido de minha mãe para batizar-me, apesar de
acreditar que não teria sido muito difícil de ele aceitar, já que se trata de
uma pessoa super bacana. E foi ainda mais sorte a minha Madrinha ter embarcado
nessa ideia e também ter aceito batizar uma desconhecida, rsrs... O fato é que
sou e sempre fui grata pelo que os dois fizeram por mim. Os dois foram
extremamente bondosos, generosos e corajosos de ter abrigado uma criatura que
não fazia parte da família, totalmente diferente da cultura e do modo de viver
deles. É preciso muita bondade, generosidade e sensibilidade para inserir o
outro, o diferente, em seu convívio e no de sua família. Admiro-os ainda mais
por isso...
Meu Padrinho,
extremamente bondoso e sensível às dificuldades sociais (sempre atento às
questões sociais), percebeu que minha mãe passava por dificuldades para criar
os quatro filhos sozinha, e resolveu ajudá-la ao me convidar a ir morar com sua
família. Penso, nunca conversei com eles sobre isso, que minha mãe, quando foi
fazer um tratamento de úlcera no hospital de base (minha madrinha trabalhava
lá) e lá reencontrou minha madrinha, comentou com ela que estava passando por
sérias dificuldades, e minha madrinha deve ter comentando com meu padrinho
sobre a situação, que tomou essa decisão.
O que lembro, depois
de minha mãe ter contado que havia reencontrado minha madrinha, é que um homem
alto, loiro, bem vestido, num carro preto, foi ter uma conversa com minha mãe e
entregar uma cesta básica natalina (e que cesta, minha gente! Nunca tínhamos
visto nada igual) para ela... Não recebíamos visitas. Morávamos num quartinho
nos fundos de uma casa, e a dona da casa foi chamar minha mãe, que foi receber
o rapaz no portão. Eu e meus irmãos ficamos curiosos, devido à surpresa de
alguém nos fazer uma visita, mas minha não permitiu que fôssemos com ela até o
portão. Então eu e minha irmã Lucília fomos escondidas “curiar” a conversa que
ocorria no portão, curvadas no beco da casa, na noite daquele dia. Lembro da
figura desse rapaz: alto, alegre e simpático. Como minha mãe não tinha o hábito
de conversar muito, nos disse o essencial: que meu padrinho estava me convidando
para ir morar um tempo com eles. O que fiquei extremamente feliz. E assim meu
padrinho ajudou minha mãe a aliviar um pouco mais as dificuldades que
passávamos.
Minha gratidão já
seria enorme só por essa atitude de generosidade. Mas abarca tudo o que eles
acrescentaram em minha vida.
Meu padrinho me
possibilitou descobrir um outro mundo, que a minha realidade não me permitia
ter. Éramos muito pobres, e a nossa realidade de moradores da periferia era
bastante diferente... Na casa de meu padrinho, pude descobrir o que era ter um
quarto, ter sala, copa, banheiro com chuveiro, pia, espelho, descarga... Mas
muito mais se descortinou na vida da garota pobre de 10 anos, moradora da
Ceilândia. Foi com meu padrinho que descobri o cinema, o shopping (acessível
somente a quem possuía poder aquisitivo) o Mc’Donalds (sim, minha gente, era o
suprassumo da época, eram filas enormes). Meu padrinho nos levava para passear
(os filhos dele e eu) fins de semana, e eu desfrutava de toda essa maravilha,
que é para uma criança. Os passeios em família ao clube, as visitas às casas
dos amigos. Desfrutei da companhia da querida Ivonice, com quem dividi muitos
momentos especiais. A casa de meus padrinhos era um ambiente de liberdade,
abertura, convivência harmoniosa e sem conflito. Foi um período de descobertas
e aprendizados.
E meu padrinho
continuou presente e contribuindo mesmo na minha vida adulta... Lembro que na
adolescência, já não mais morando com eles, meu padrinho me presentou com uma
coleção de livros clássicos da literatura brasileira. Confesso que só li dois
deles. Um livro que ele me deu e me marcou profundamente, já no finzinho de
minha adolescência, aos dezoito, e já grávida de minha filha, mas sem que
soubessem do fato, rs, foi um livro sobre uma chinesa que sai de casa para
fugir dos rigores da educação chinesa, e que acaba tendo de se prostituir. Esse
livro foi marcante, porque descreve as agruras que ela teve de passar, então
foi um construtor de caráter. E meu padrinho nunca deixou de insistir no meu
desenvolvimento pessoal. Livros importantes ele me deu, e me dá até hoje,
acredito que para alargar meus conhecimentos... conhecer outras formas de vida,
outros pensamentos, e, consequentemente, diminuir minha ignorância, minhas
limitações, e, assim, ter outras possibilidades. Foram inúmeros os passeios às
livrarias, ao cinema... Muitas sessões de filmes em sua casa, agregando
conhecimento... lembro em especial quando ele colocou um filme italiano sobre a
amizade quando fui visitá-lo junto com Camila e a amiga dela Sara, teceu
comentários extraordinários. O mais incrível de tudo isso é que ele não ofertou
tudo isso apenas à minha pessoa, ele também o fez por outros que aportaram em
sua casa, e até mesmo os de fora, sempre contribuindo com crescimento pessoal
de outros.
A casa de meus
padrinhos me possibilitou o conhecimento de um outro mundo... sempre me
possibilitou o contato com o novo. Tudo de moderno e atual estava lá... filmes,
músicas, livros infinitos... Como um bom jornalista que é, meu padrinho estava
sempre acompanhado das novidades, e sempre contribuindo para enriquecer o
repertório de quem por lá chegasse. Lá descobria-se desde o jazz, a música
erudita, o blues, a bossa, a música popular brasileira, até os cantores novos,
como Lauryn Hill... nunca me esqueço de chegar na casa de meus padrinhos e ver
o DVD dela na tela da televisão, foi paixão à primeira vista, isso nos idos de 2002.
Sua casa estava sempre aberta com a presença de familiares, poetas, escritores,
músicos que iam atrás das últimas novidades, porque o meu padrinho já tinha
disponível... Enfim, era uma casa fervilhante e que proporcionou momentos
enriquecedores a muitos... sempre uma casa convidativa, sempre cheia de
parentes, amigos e afilhados. Pude desfrutar da deliciosa companhia dos amigos e
parentes de meus padrinhos, que adoram receber visitas e os recebem muito bem.
Então só tenho a
agradecer aos meus queridos padrinhos, que têm uma importância muito grande em
minha vida. Agradeço imensamente o que fizeram, sou grata pelo desprendimento e
por tudo que me ofereceram. Nunca conseguirei pagar o que fizeram por mim.
E neste dia
simbólico do dia dos pais, quero agradecer a meu padrinho em especial, que
representou e representa a figura de um pai que não tive, com seus incríveis
ensinamentos, postura de caráter, uma pessoa cordial que sempre buscou tratar o
outro com cordialidade e respeito, com ética e moral, resolver os problemas da
vida da melhor maneira possível, sempre se pautando pelo diálogo. Pessoa de
incrível tolerância que sempre procurou tratar o próximo com cordialidade e
respeito, sem distinção de pessoas e julgamentos, aberto à assimilação de
outras culturas, aceitação do outro.
Muita gratidão pelos
valorosos momentos de conversas de aconselhamentos, por mostrar a beleza da
vida, mesmo nas dificuldades, mostrando que é melhor viver com leveza, pelos
momentos preciosos de compartilhamento de informações, conhecimentos... Tenho
na pessoa dele a referência de caráter, integridade, além de alegria e humor
natos, meu padrinho tem um grande senso de humor que o faz ser uma pessoa leve
e agradável que queremos estar sempre junto dele. É a pessoa que faz almoços
para agregar e integrar a numerosa família.
Meu
agradecimento, meu apreço e minha enorme gratidão, sempre. Obrigada por tudo. Feliz
dia dos Pais!
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