Os dois autores são generosos em suas relações com a literatura brasileira.
Aproveito para registrar aqui a resenha que Whisner Fraga publicou noa folha "Brasília Literária", de novembro de 2002, pela oportunidade do lançamento do meu livro "Estoque de relâmpagos".
A resenha generosa:
À ESPERA DOS TROVÕES
Whisner Fraga
Há algo
nos justos que os faz temerem a condição humana e, mais do que predileção,
admiro os autores que enobrecem a própria raça expondo o que de mais atroz
existe nela. Salomão Sousa disseca sentimentos em Estoque de relâmpagos. Já os laços do amor atacam/por todos os
flancos/deixando apenas o esmo cheiro de fezes. Entretanto, é próprio dos
que descobrem nossa decrepitude, temessem uma punição, representarem um bocado
de esperança. Ainda que o mar seja uma
rocha/ e no deserto o coração vá navegar/ Ainda assim o faroleiro acenderá.
E não é
de se estranhar que o autor não utilize nenhuma pontuação. Vírgula, ponto?
Nada. Tal atitude, a meu ver, vai além da ousadia linguística (que por si só
justificaria a opção), tendo raízes mais intrincadas, é que Salomão nos
apresenta apenas um de seus depósitos, que não tem início nem fim e, apesar de
muito provável tenhamos mais adiante uma outra carga, o que não importa, o
poeta quer que visualizemos apenas esse clarão, estivéssemos numa desolada
cegueira e precisássemos desse rasgo de luz para enxergarmos a possibilidade de
uma verdade.
Quando
surgir o lampejo que nos fará, quem sabe?, mais cientes de nosso estado, Todos sentados no baldrame/ à espera de quem
desleitere/ os úberes dos gritos. É urgente a descoberta e por isso o tempo
presente em todo o livro, mal damos um passo rumo à outra frase e o
encontramos, em sua vigília tácita e ímpia: Estou
repetindo com a sede da ampulheta; Para atraso de qualquer prazer; O tempo dura
apenas/enquanto a lagarta tece e poderia citar muitos outros casos. E não é
um dos grandes desejos do homem domar um relâmpago? Usar essa efeméride em seu
favor?
E nos
importa de que material esta luminosidade? De sóis: Ressequido fervor de sol/ e outros ainda dirão que é grito. É um a lua/
que vem tarde para a rua. De fogos: Ardência de fogo nas carnes/ e dirão que é podre a lenha do grito. Importa de
onde vem a ajuda? Salomão Sousa nos ensina que não. Ainda assim é o amor à
justiça, não é desse antagonismo que é feito o bem e o mal?, Quem escolheu o Mal/ escolheu mal. E
também não tem o relâmpago e toda a natureza do que é mais forte uma aura de
divino? É só essa força que pode Impedir
a tempestade/ para não ser a lasca/ o batente arrancado/ de uma porta. A
própria dualidade do homem, a chuva ao mesmo tempo ajuda e desgraça.
Livro
que mereceu o prêmio Bolsa Brasília de Produção Literária 2001. Conheci dois
premiados até agora, os contos reunidos em Dezembro
indigesto, de Ronaldo Cagiano, e estas poesias de Salomão Sousa. Que falta
faz um selo para lançar para o resto do país essas duas obras!
E o
homem é forte em sua capacidade de resistir, adaptar. Assim, o poeta termina
seu livro: Estarão sólidos os nossos
punhos/ e não adianta as algemas descerem/ com a rota euforia de suas sarjetas/
Desastre algum nos tingirá de lama.
Um comentário:
Gostei muito do Safra Quebrada e agora ao ler a resenha fiquei curiosa sobre o Estoque de relâmpagos.
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