domingo, 13 de agosto de 2023

Por Jacqueline Assunção Soares, minha afilhada


Hoje quero fazer um agradecimento a duas pessoas muitos importantes em minha vida: meus queridos Padrinhos. A escolha da data para fazer esse agradecimento, embora comercial, não é coincidência, ela diz muito sobre a enorme importância que tem essas duas pessoas incríveis, que permitiram que eu fizesse parte de suas vidas.

Foi uma enorme sorte meu Padrinho ter aceito o pedido de minha mãe para batizar-me, apesar de acreditar que não teria sido muito difícil de ele aceitar, já que se trata de uma pessoa super bacana. E foi ainda mais sorte a minha Madrinha ter embarcado nessa ideia e também ter aceito batizar uma desconhecida, rsrs... O fato é que sou e sempre fui grata pelo que os dois fizeram por mim. Os dois foram extremamente bondosos, generosos e corajosos de ter abrigado uma criatura que não fazia parte da família, totalmente diferente da cultura e do modo de viver deles. É preciso muita bondade, generosidade e sensibilidade para inserir o outro, o diferente, em seu convívio e no de sua família. Admiro-os ainda mais por isso...

Meu Padrinho, extremamente bondoso e sensível às dificuldades sociais (sempre atento às questões sociais), percebeu que minha mãe passava por dificuldades para criar os quatro filhos sozinha, e resolveu ajudá-la ao me convidar a ir morar com sua família. Penso, nunca conversei com eles sobre isso, que minha mãe, quando foi fazer um tratamento de úlcera no hospital de base (minha madrinha trabalhava lá) e lá reencontrou minha madrinha, comentou com ela que estava passando por sérias dificuldades, e minha madrinha deve ter comentando com meu padrinho sobre a situação, que tomou essa decisão.

O que lembro, depois de minha mãe ter contado que havia reencontrado minha madrinha, é que um homem alto, loiro, bem vestido, num carro preto, foi ter uma conversa com minha mãe e entregar uma cesta básica natalina (e que cesta, minha gente! Nunca tínhamos visto nada igual) para ela... Não recebíamos visitas. Morávamos num quartinho nos fundos de uma casa, e a dona da casa foi chamar minha mãe, que foi receber o rapaz no portão. Eu e meus irmãos ficamos curiosos, devido à surpresa de alguém nos fazer uma visita, mas minha não permitiu que fôssemos com ela até o portão. Então eu e minha irmã Lucília fomos escondidas “curiar” a conversa que ocorria no portão, curvadas no beco da casa, na noite daquele dia. Lembro da figura desse rapaz: alto, alegre e simpático. Como minha mãe não tinha o hábito de conversar muito, nos disse o essencial: que meu padrinho estava me convidando para ir morar um tempo com eles. O que fiquei extremamente feliz. E assim meu padrinho ajudou minha mãe a aliviar um pouco mais as dificuldades que passávamos.

Minha gratidão já seria enorme só por essa atitude de generosidade. Mas abarca tudo o que eles acrescentaram em minha vida.

Meu padrinho me possibilitou descobrir um outro mundo, que a minha realidade não me permitia ter. Éramos muito pobres, e a nossa realidade de moradores da periferia era bastante diferente... Na casa de meu padrinho, pude descobrir o que era ter um quarto, ter sala, copa, banheiro com chuveiro, pia, espelho, descarga... Mas muito mais se descortinou na vida da garota pobre de 10 anos, moradora da Ceilândia. Foi com meu padrinho que descobri o cinema, o shopping (acessível somente a quem possuía poder aquisitivo) o Mc’Donalds (sim, minha gente, era o suprassumo da época, eram filas enormes). Meu padrinho nos levava para passear (os filhos dele e eu) fins de semana, e eu desfrutava de toda essa maravilha, que é para uma criança. Os passeios em família ao clube, as visitas às casas dos amigos. Desfrutei da companhia da querida Ivonice, com quem dividi muitos momentos especiais. A casa de meus padrinhos era um ambiente de liberdade, abertura, convivência harmoniosa e sem conflito. Foi um período de descobertas e aprendizados.

E meu padrinho continuou presente e contribuindo mesmo na minha vida adulta... Lembro que na adolescência, já não mais morando com eles, meu padrinho me presentou com uma coleção de livros clássicos da literatura brasileira. Confesso que só li dois deles. Um livro que ele me deu e me marcou profundamente, já no finzinho de minha adolescência, aos dezoito, e já grávida de minha filha, mas sem que soubessem do fato, rs, foi um livro sobre uma chinesa que sai de casa para fugir dos rigores da educação chinesa, e que acaba tendo de se prostituir. Esse livro foi marcante, porque descreve as agruras que ela teve de passar, então foi um construtor de caráter. E meu padrinho nunca deixou de insistir no meu desenvolvimento pessoal. Livros importantes ele me deu, e me dá até hoje, acredito que para alargar meus conhecimentos... conhecer outras formas de vida, outros pensamentos, e, consequentemente, diminuir minha ignorância, minhas limitações, e, assim, ter outras possibilidades. Foram inúmeros os passeios às livrarias, ao cinema... Muitas sessões de filmes em sua casa, agregando conhecimento... lembro em especial quando ele colocou um filme italiano sobre a amizade quando fui visitá-lo junto com Camila e a amiga dela Sara, teceu comentários extraordinários. O mais incrível de tudo isso é que ele não ofertou tudo isso apenas à minha pessoa, ele também o fez por outros que aportaram em sua casa, e até mesmo os de fora, sempre contribuindo com crescimento pessoal de outros.

A casa de meus padrinhos me possibilitou o conhecimento de um outro mundo... sempre me possibilitou o contato com o novo. Tudo de moderno e atual estava lá... filmes, músicas, livros infinitos... Como um bom jornalista que é, meu padrinho estava sempre acompanhado das novidades, e sempre contribuindo para enriquecer o repertório de quem por lá chegasse. Lá descobria-se desde o jazz, a música erudita, o blues, a bossa, a música popular brasileira, até os cantores novos, como Lauryn Hill... nunca me esqueço de chegar na casa de meus padrinhos e ver o DVD dela na tela da televisão, foi paixão à primeira vista, isso nos idos de 2002. Sua casa estava sempre aberta com a presença de familiares, poetas, escritores, músicos que iam atrás das últimas novidades, porque o meu padrinho já tinha disponível... Enfim, era uma casa fervilhante e que proporcionou momentos enriquecedores a muitos... sempre uma casa convidativa, sempre cheia de parentes, amigos e afilhados. Pude desfrutar da deliciosa companhia dos amigos e parentes de meus padrinhos, que adoram receber visitas e os recebem muito bem.

Então só tenho a agradecer aos meus queridos padrinhos, que têm uma importância muito grande em minha vida. Agradeço imensamente o que fizeram, sou grata pelo desprendimento e por tudo que me ofereceram. Nunca conseguirei pagar o que fizeram por mim.

E neste dia simbólico do dia dos pais, quero agradecer a meu padrinho em especial, que representou e representa a figura de um pai que não tive, com seus incríveis ensinamentos, postura de caráter, uma pessoa cordial que sempre buscou tratar o outro com cordialidade e respeito, com ética e moral, resolver os problemas da vida da melhor maneira possível, sempre se pautando pelo diálogo. Pessoa de incrível tolerância que sempre procurou tratar o próximo com cordialidade e respeito, sem distinção de pessoas e julgamentos, aberto à assimilação de outras culturas, aceitação do outro.

Muita gratidão pelos valorosos momentos de conversas de aconselhamentos, por mostrar a beleza da vida, mesmo nas dificuldades, mostrando que é melhor viver com leveza, pelos momentos preciosos de compartilhamento de informações, conhecimentos... Tenho na pessoa dele a referência de caráter, integridade, além de alegria e humor natos, meu padrinho tem um grande senso de humor que o faz ser uma pessoa leve e agradável que queremos estar sempre junto dele. É a pessoa que faz almoços para agregar e integrar a numerosa família.

Meu agradecimento, meu apreço e minha enorme gratidão, sempre. Obrigada por tudo. Feliz dia dos Pais!