segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Abaixo, a apresentação de minha autoria, para a antologia DESTE PLANALTO CENTRAL - POETAS DE BRASÍLIA, com patrocínio do FAC/Câmara do Livro do Distrito Federal, para a I Bienal Internacional de Poesia, da Biblioteca Nacional de Brasília:

Argumentos do Organizador
Salomão Sousa

“Deste planalto central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das altas decisões nacionais, lanço os olhos mais um vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino.”
Juscelino Kubitschek

Esta coletânea, que abriga expressões da poesia brasiliense — atuantes nesta antevéspera do cinquentenário da Capital —, é item da programação da I Bienal Internacional de Brasília, promovida pela Biblioteca Nacional de Brasília.
O organizador acalentava há mais de quinze anos o desejo de agrupar num único volume aqueles poetas que contribuem com têmpera pessoal para a edificação da poesia da sociedade cultural no Planalto Central. O convite da Biblioteca Nacional de Brasília concretiza este desejo.
Ainda é cedo para o antevisto amanhã do profético discurso de Juscelino Kubitschek, mas numa velocidade elétrica — com argamassa de sangue e sonho de arquitetos, escritores, músicos… — forja-se com arrojo não só a certeza da centralização de decisões políticas e da abertura de frentes econômicas, mas forja-se também a certeza da necessária irradiação de cultura. Com a nova Capital ficou aberta a possibilidade de melhor miscigenação cultural da população mais a oeste do país. Ao elevar-se como símbolo da modernidade frente a todas as nações, Brasília extinguiu o conceito de província, que causou malefícios a tantos criadores não só em razão do preconceito, mas sobretudo pela ausência de redes de formação e de divulgação. Desse projeto, os poetas brasilienses têm sobressaído em antologias estrangeiras e nacionais, à medida que os anos passam, numa representatividade crescente. Basta ver o número deles na Antologia Comentada da Poesia Brasileira no Século 21 (Publifolha, 2006) e na Antologia Comentada de Literatura Brasileira (Vozes, 2006).
Por se tratar de sociedade nascente, ainda são raros os poetas brasilienses naturais. Pelo que está coletado neste volume — transcorridos quase 50 anos da inauguração de Brasília —, constata-se que apenas um, numa totalidade de cinqüenta poetas, nasceu na cidade. Portanto, é cedo para a arte de Brasília admitir qualquer tombamento ou cerca limitadora, pois junto com a cidade, ainda está em processo a dinâmica de ampliação dos limites dos próprios recursos humanos e criativos.
A condição de estrangeiro dos poetas brasilienses não é desalentadora. Primeiramente, ela corresponde à situação idêntica vivida pelos que atuam em outras instâncias. Assim como a árvore transplantada — conforme comprova a ciência —, os poetas se ajustam a esse solo, dele retiram elementos de sobrevivência e de construção simbólica, e a esse solo transferem características inseminadoras de novas fertilidades, contribuindo para o surgimento de uma vistosa Babilônia da modernidade. Essa troca de fertilidade não é de agora — desde a demarcação do Distrito Federal que se tem registro de poetas no território abrindo clareiras, armazenando metáforas da construção… Com essa troca leal, os poetas dão face à cultura de Brasília, e na história da cidade cinzelam suas efígies pessoais.
A presença do corpo diplomático, dos tribunais, das casas legislativas, das universidades — de todo o arcabouço administrativo a exigir presença de homens e mulheres íntimos da interpretação cultural e política — favoreceu o rápido florescimento da literatura em Brasília. Assim, após a arquitetura, a poesia foi o segmento criativo que melhor vem se aclimatando às vastidões do Planalto Central, e se afirma como um dos segmentos da literatura de maior expressão na região. Outros segmentos aparecem através de booms temporários, enquanto a poesia se preocupa em encontrar dinâmica evolutiva.
Como alternativa para enfrentar o distanciamento do mercado editorial, bem como do incipiente processo crítico — já que Brasília demora a produzir crítica cultural, pois os meios de comunicação aqui se instalam para produzir crítica política — e para demarcar, de forma coesa, a presença na cidade, os poetas brasilienses sempre buscaram se afirmar de forma organizada em entidades culturais e em antologias. A primeira antologia de Joanyr de Oliveira, de 1962, empresta cinco nomes para a presente coletânea. De lá para cá, são dezenas de antologias — consorciadas, temáticas, marginais, poetas agrupados por entidade, por repartição pública, por cidades-satélites…
Inútil a construção de argumentos para justificar ausências de poetas nesta coletânea. Ou a abertura das preferências do organizador, pois elas nem sempre irão coincidir com a multiplicidade dos olhares críticos — mesmo quando manifestamente benfazejos. Independente da linguagem de cada autor, esta coletânea busca apreender poetas de todas as fases e grupos de escritores de Brasília, considerando desde aqueles que circulavam aqui entre 1956 e 1958, até os que atuam na Capital no advento de seu cinqüentenário.
Seria injusto se não fosse oferecida prioridade, no processo de escolha, aos poetas residentes na cidade, preferencialmente àqueles que entrelaçam suas raízes para maior fixação numa nova territorialidade. Foram raríssimas, mas necessárias ao olhar do organizador, exceções àqueles que, mesmo fora, continuam a emprestar parcerias em ramificações que contribuem para ampliar a vitalidade da cultura brasiliense.
Para evitar preterições de justificado questionamento, o material de vários poetas foi recolhido após a busca em fundos abandonos. Foi constatado que em Brasília os poetas guardam riquíssimo material inédito, prontos para edição, ou que se encontra em elaboração (há exigência urgente de projeto capaz de trazer à luz a obra que muitos poetas ativos têm produzido, e também o que sabidamente foi deixado inédito por Altino Caixeta de Castro, Esmerino Magalhães Jr., Fernando Mendes Vianna e Otávio Afonso). Alguma aura de invisibilidade — já que é incipiente o processo de avaliação dos escritores de Brasília — pode ter prejudicado a avaliação de algum autor. No entanto, sem o corpo-a-corpo crítico — é oportuno reconhecer — não há a troca entre terra e raízes, ou mesmo sem entrecruzar de genes na boa sementeira. Em que pese toda secura com que é tratado, o poeta não pode se recolher — tem de insistir com a sua fertilidade, trazê-la para a rua. Nem tudo pode acontecer só no antevisto amanhã.
É natural que a coletânea não consiga abrigar todos os poetas expressivos que passaram ou que continuam em Brasília. Além do merecimento natural de suas obras, o organizador recebeu de várias frentes a indicação dos seguintes nomes: Adalberto Müller, Ana Ramiro, Alphonsus de Guimaraens Filho, Donaldo Mello, Elizabeth Hazin, Ézio Macedo Ribeiro, Fernando Marques, Gustavo Dourado, Márcio Catunda, Reivaldo Vinas, Sérgio Muylaert, Valdir de Aquino Ximenes e Villi S. Andersen. Talvez poucos se lembrem de Anito Steinbach — mestre em Taguatinga e também do corpo diplomático do Itamarati —, que publicou poemas de rara condensação, quase de hai-kai. Esta lista suscitará a lembrança de muitas outras ausências, sedimentando a certeza da impossibilidade de esgotar a totalidade daqueles que fortalecem a história inicial da literatura de Brasília. Ainda há que mencionar aqueles de outras áreas que incursionam pela poesia com rara soberba, também meritoriamente recomendados, tais como Affonso Heliodoro, Alan Viggiano, Emanuel Medeiros Vieira, Flávio Kothe, Guido Heleno, Joilson Portocalvo, Napoleão Valadares, Paulo Bertran e Stela Maris Resende. Muitas outras listas de ausentes poderiam ser construídas — basta dizer que de muitas antologias não foi sacado nenhum nome para aqui figurar.
Para não diminuir a representatividade dos poetas que se encontram em atividade, a coletânea não contempla aqueles que já faleceram — por si sós, seriam suficientes para volume ainda mais caudaloso. Na primeira fase do levantamento dos nomes que poderiam figurar na coletânea, treze deles chegaram a ser relacionados. Sem necessidade de contratação de consultoria crítica para avaliá-los, acrescentariam mérito a qualquer antologia nacional ou estrangeira — ainda mais a uma regional: Altino Caixeta de Castro, Afonso Félix de Sousa, Antonio Roberval Miketen, Cassiano Nunes, Domingos Carvalho da Silva, Esmerino Magalhães Jr., Fernando Mendes Vianna, Jesus Barros Boquady, José Godoy Garcia, José Hélder de Souza, Yolanda Jordão, Marly de Oliveira e Oswaldino Marques. Como faleceram após desencadeado o processo de organização da coletânea, foram mantidas as presenças de Otávio Afonso, que foi o segundo poeta brasileiro “a levar” o Prêmio Casa de Las Américas, pois o primeiro “a trazer” este prêmio para o Brasil foi Pedro Tierra (também aqui presente), e H. Dobal, que, além de poeta aclamado, muita contribuição deixou na esfera administrativa de Brasília.
O organizador pretendia que a formação da poesia de Brasília fosse apresentada na ótica de cada participante. Mas, por dificuldade de coletar o material, merecem destaque as justas observações de José Edson dos Santos:
A formação do contexto histórico-cultural da práxis poética em Brasília passa certamente pela iniciativa desbravadora de Joanyr de Oliveira de reunir em 1962, na antologia Poetas em Brasília, nomes expressivos como Afonso Félix de Sousa, Alphonsus de Guimaraens Filho, Anderson Braga Horta, Ézio Pires, José Santiago Naud, entre outros. Nos anos setenta, outras manifestações poéticas coletivas como Águas Emendadas, com Francisco Alvim, Carlos Saldanha, Luis Martins, Chico Dias; Em Canto Cerrado, organizada por Salomão Sousa. As edições dos 8, 16, 20 e 27 POrrETAS, reunidas por César Athayde. A revista Grande Circular, a Lira Pau Brasília, com Turiba, Nicolas Behr, Paulo Tovar, Sóter, visitando escolas no início dos anos 80. A Livraria Galilei com os lançamentos e divulgação de livros e antologias que marcaram a iniciação de muitos poetas. A Feira do Livro também teve um papel relevante no surgimento de novos poetas, nas interações dos saraus pelos bares e cafés da cidade. Outras iniciativas e projetos alternativos ficaram no limbo do esquecimento. Trabalhos de mestrado como O Cristal e a Chama (A Linguagem Literária que Traduz o Objeto Brasília), de Maria da Glória Barbosa, e Poesia de Brasília: Duas Tendências, de José Roberto de Almeida Pinto, vêm de certa forma contribuir e resgatar esse espaço de atuação nas áreas da cultura e da poesia desenvolvidas em Brasília.
Realmente, o estudo de José Roberto de Almeida Pinto — que toma por eixo a Poesia Marginal — merece ser reconhecido como aquele que melhor organiza os primeiros movimentos da poesia de Brasília. Não podem passar despercebidos os livros História da Literatura Brasiliense, de Luiz Carlos Guimarães da Costa, que — apesar da falta de sistematização historiográfica — focaliza alguns escritores de preferência do autor; e Depoimento Literário, Julgamento de Liberdade e Literatura na Criação de Brasília, de Ézio Pires, que reúne artigos e notas do autor sobre os primeiros passos da literatura brasiliense. Somam-se a esses livros os dois volumes de artigos, resenhas e palestras de Anderson Braga Horta. A literatura de Brasília — sem desmerecer esses esforços iniciais — já merece estudo de visão interpretativa e de melhor estrutura historiográfica. Quanto às publicações seriadas — em que pese a existência do Boletim da ANE, das revistas da Academia Brasiliense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal, Há Vagas e DF Letras —, destaca-se de forma isolada a revista Bric-a-Brac, que inverteu o viés do processo criativo.
Contudo, as aproximações com as vanguardas, promovidas pela revista Bric-a-Brac, foram insuficientes para mudanças significativas nos rumos da poesia de Brasília. Para compreender o entendimento pessoal do poeta sobre a vida na Capital, talvez pudesse ser dramatizado o momento da chegada de alguns deles. Poderia, por exemplo, ser relembrada a primeira noite de determinado poeta numa cidade-satélite, quando andou chapinhando nas poças de lama. Para ele, a primeira lua em Brasília estava enlameada. Para muitos, a qualquer momento, a porta podia ser arrebentada pela força da repressão. O poeta, então, não tinha tempo para práxis e processos — tinha de construir com lama e resistência.
Há um pequeno poema de Lourdes Teodoro que remete ao período em que a Ditadura fazia (re)percutir dentro dos lares brasileiros o ruído de seu torniquete, chamado “Oração do Mutilado”, que pode ser interpretado como o apagar-se da esperança ou ao elevar-se da construção onde antes era o verde:

o verde em mim
é um remoto ponto escuro.

Lembremos também o poema sem título, de Esmerino Magalhães Jr., que foi recitado em diversos momentos de protesto realizados em Brasília:

O SARGENTO QUE MATOU GARCIA LORCA
está sentado. A mão direita de seu padre
todo-poderoso na aldeia acena-lhe da porta
da igreja. Corpo ainda modorrento do catre,
levanta-se, pensando no que mais importa:
à tarde, ao vinho, virá o melhor alcatre.
O sargento que matou Garcia Lorca
vai à missa domingueira e genuflexo
é o herói da aldeia. A legenda nunca morta
revive nos serões, nas tascas: três balas no plexo,
sem ao menos tremer de leve os dedos,
dono e senhor dos seus e outros medos.

O sargento que matou Garcia Lorca
é um velho forte, alto, e na taverna
mais cresce ainda quando o vinho emborca,
contando história antiga aos outros da caterva
(o moço efeminado, trêmulo, de gelo),
quando viril, com seu fuzil e o zelo,
matou de vez a consciência porca
do sargento que matou Garcia Lorca.

Além de estudar a poesia brasiliense, José Roberto de Almeida Pinto também é poeta expressivo. Publicou apenas um livro de poemas até o momento, mas, pela maneira peculiar de sentir e interpretar a cidade, a sua poesia é marcante na evolução da literatura de Brasília:

REMORSO

Nesta Brasília, calada
nesta sala assexuada
Nesta hora desgraçada
Eu sou somente remorso.

Aço preto na testa,
Acre sertão na garganta,
Resina de esgoto nos olhos,
Eu não sou mais que remorso.
Eu não sou mais que a vontade de sair correndo
estraçalhar a cara no primeiro poste, o homem
que um dia sonhou ser bom, a besta
que quer fugir e não pode
que quer berrar e não pode
que quer, meu Deus, ser perdoado.

Nesta véspera de sábado
Nesta Brasília silente
Há festas, boates, mulheres.
Roendo osso, remorso
Nesta sala indiferente.
Nesta hora desgraçada
Há somente o homem em face de si mesmo e náusea
O homem finalmente em face de si mesmo
O atônito covarde.

José Roberto de Almeida Pinto demonstra neste poema que Brasília não é uma cidade só para glórias, onde só se louva, mas é onde também se vive e se acovarda. A poesia acompanha todos os passos da civilização — tanto em seus momentos de heroísmo quanto de derrocadas. Outras razões ainda favorecem o destaque para o poema de José Roberto de Almeida Pinto. Traz temática que faz lembrar ao indivíduo egocêntrico da pós-modernidade que a humanidade se constrói com laços frágeis, de rigorosa humildade e generosidade. Todo comportamento egocêntrico e de excesso da valorização do “eu” é ausência de poesia.
A metáfora de resistência está em repouso na poesia brasileira, inclusive em Brasília. Ainda não são significativos os experimentos na poesia brasiliense, excetuando parte da obra de Altino Caixeta de Castro, Da Nirham Eros (pseudônimo de Antonio Miranda), e Hugo Mund Jr., mas serão favorecidos com o ordenamento dos aspectos político-econômicos da cidade — cabendo, portanto, estudo para levantar as experiências raras com poesia visual ocorridas na Capital. A poesia de resistência se dá quando a vida está ameaçada; e, a poesia de experimentação, quando evolução das estruturas liberam os poetas das preocupações sócio-políticas. À medida que as estruturas de Brasília se completam, os poetas poderão melhor se debruçar em pesquisas das tendências da modernidade “e sair desse imbróglio do poder”, conforme expressa Heitor Humberto de Andrade. Brasília tem de deixar de ser vista como um elemento de malefício ou de redenção nacional para se transformar num organismo que se completa em si mesmo, em seus aspectos políticos, econômicos e culturais. O organismo que se realiza em si mesmo é o que melhor contribui com aqueles que estão fora dele.
A Poesia Marginal — o único movimento legítimo da poesia de Brasília — resistia ao momento político e ao conservadorismo ou de experimentos que esvaziavam o discurso poético. Era uma busca de contato corporal com a palavra e com a cidade. Vencido este momento — não há como desconhecer —, os poetas brasilienses ainda se ajustam às incertezas dos segmentos de pós-vanguarda que vive a poesia, procurando aos poucos a eles se integrar.
É o esforço para criar identidade e definir linguagens que dá excelência à poesia brasiliense. Aos poetas, então, cabe louvar a crescente inserção neste projeto de transformar Brasília num organismo autônomo, e estimulá-los com valorização crítica para que sejam motivados a seguir em busca de novas linguagens, já que a poesia, para não apodrecer, não pode ficar estancada sempre nos mesmos limites.

Brasília, 10 de junho de 2008.
Relação dos Poetas da Antologia:
Afonso Henriques Neto
Aglaia Souza
Alexandre Marino
Alexandre Pilati
Álvaro Faleiros
Amneres
Anderson Braga Horta
Angélica Torres
Antonio Carlos Osorio
Antonio Miranda
Astrid Cabral
Chico Pôrto
Cláudio Murilo Leal
Cristina Bastos
Eudoro Augusto
Ézio Pires
Francisco Alvim
Francisco Kaq
H. Dobal
Heitor Humberto de Andrade
Hermenegildo Bastos
Hugo Mund Junior
Joanyr de Oliveira
João Bosco Bomfim
João Carlos Taveira
José Edson dos Santos
Josira Sampaio
José Carlos Pereira Peliano
José Santiago Naud
Julio Cezar Meirelles
Lina Tâmega Peixoto
Lourdes Teodoro
Luiz Martins da Silva
Luis Turiba
Menezes y Moraes
Nelson Carvalho
Nilto Maciel
Nicolas Behr
Otávio Afonso
Pedro Tierra (Hamilton Pereira)
Reynaldo Jardim
Robson Corrêa de Araújo
Ronaldo Cagiano
Ronaldo Costa Fernandes
Salomão Sousa
Sylvia Cyntrão
TT Catalão
Vera Americano
Viriato Gaspar
Wilson Pereira
Xenïa Antunes

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