terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

A nova geração

Manoel Hygino

Hoje em Dia, edição de 13 de janeiro de 2009

Pela Thesaurus, de Brasília, com apoio da Secretaria de Estado de Cultura do Distrito Federal, através do Fundo de Arte e de Cultura, lançou-se, quase no ocaso de 2008, “Momento crítico”, de Salomão Sousa. É livro para se ler e meditar. Nada mais útil. Nascido em Silvânia, Goiás, em 1952, formado em jornalismo, pela CEUB, Salomão exerce a profissão. O início foi na poesia, a que se dedica, enquanto avança como personalidade em outros gêneros. O novo livro contém artigos, crônicas, ensaios, em que focaliza fatos e personagens, expõe pontos-de-vista e, acima de tudo, convida o leitor à reflexão sobre problemas de antes, mas principalmente os de nosso desengonçado tempo.
O autor é um apaixonado pela natureza, não digo “encantado”, porque, depois de Guimarães Rosa, a palavra adquiriu nova acepção. “A memória das flores contribui, sobretudo, para o entendimento dos processos de reprodução, e dos engenhos misteriosos da formação da cultura. Quem não adquire memória pessoal das flores não estabelece liames para compreensão da beleza e de sua ligação com a cadeia evolutiva da vida. As flores existem para que a harmonia se construa. Só há harmonia quando existe a possibilidade da perpetualidade”.
Pois Salomão Sousa expõe e discute o problema da evolução tecnológica no campo das comunicações. Observa que, criado em 2004, o Orkut já conta com dez ou vinte milhões em uma comunidade, que cresce a todo dia. Em 2005, 74,37% eram de brasileiros, com 18 a 25 anos de idade, contabilizados os menores de idade, não quantificados. O escritor não é contra o Orkut, pois “de imediato o sistema não merece condenação sumária. Deve ser estudado para que fiquem mais previsíveis as suas conseqüências e para divulgação dos malefícios reconhecidos. Primeiramente, o Orkut favorece a comunicação e a visibilidade de grupos de amigos, inclusive para ordená-los, pois todo mundo localiza todo mundo. Além disso, contribui para que eles disseminem seus interesses”
À primeira vista, parece um instrumento valiosíssimo, e o é, se considerados os aspectos apenas positivos, porque há senões e desvios. O usuário se torna parte da própria máquina, tornando-se dela instrumento, e toda máquina, como a Internet, é burra. Para Salomão Sousa, o Orkut afeta o raciocínio, a linguagem e a memória. “Quem usa o Orkut - ou ferramentas idênticas - nem sempre ordena o pensamento, e adota a linguagem peculiar gerada pelo uso do sistema, que disfarça a obrigatoriedade de elegância, e de correção gramatical e lingüística, ou de postura ética”.
É questão grave, a se avaliar. O operador do sistema não cuida de zelar pela boa linguagem, pelo respeito a normas elementares de conduta pessoal, que podem conduzir a conseqüências condenáveis e inaceitáveis. Enquanto se dedica ao contato na máquina, o cidadão se desliga da vida, das imposições de deveres e cultivo de direitos, aliena-se.

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